31 de maio de 2014

Inteligência

Tenho uma série de cães. Infelizmente. Recolhidos das ruas de Ijuí - ou seja: já tiveram outros donos.

Eu e eles já não somos ijuienses. E tenho um probleminha a mais com eles.

Quando saio, sou perseguido. Quando retorno, sou bem-recebido.

Muitos "donos" conseguem facilmente resolver essas situações corriqueiras. Depende das circunstâncias.

Minhas circunstâncias são adversas. Adversas para mim, favoráveis para as 40 patas caninas. Para chegar à estrada, percorro uns cem metros por uma picada silvestre. Não tem como ultrapassar a malha, às vezes mais abaixo do carro do que a sua frente. Haja nervos.

Chegado à estrada - estrada de chão -, pouco alteram as circunstâncias. A via continua estreita o suficiente para me impedir a "ultrapassagem" dos quadrúpedes - entusiasmadíssimos com o diário desafio da corrida, porém ameaçados do inevitável sumiço do adorado dono ao horizonte  por horas e horas - se bem que sabem converter as horas em horas de baderna.

Percorridos em conjunto os 700 m de chão cascalhudo ladeira acima ladeira abaixo, vem a esquina, que, desconhecedores das leis de trânsito, diferente de mim dobram sem respeitar preferências alheias.
Mas: como, afinal, está o ranking dos céleres corredores? Eu, em meu calhambeque de corrida que, conforme taquímetro, pode marcar até 180 km a hora (duvido!), nada célere situo-me mais ou menos no meio do campo dos atletas. A via, agora dobrada porém esburacada, possibilitar-me-ia um arranque derradeiro. Mas parte da mantilha não sai da frente. Pior: na esquina juntou-se outra, a dos vizinhos, que caça não as minhas rodas senão meus felizes infelizes acompanhantes. Dá-se aí, contudo, a minha chance. A atenção dos meus é desviada pelos novos perseguidores.

Procuro acelerar.  Dois a três afilhados, contudo, continuam na ponta do troço animal. Mas veja só quem está na ponta, minúsculo, imperturbável, objetivo! Esperto estrategista: o Negão.

Negão é negro que só. dos olhos à cauda. Um dos primeiros resgatados pela família. O menor de todos. Castrado, ligeiramente aleijado do atropelamento sofrido na rua 14 de julho em Ijuí.

É ele que, quando ligo o motor e, às vezes o aqueço por alguns segundos antes de partir mata adentro, é ele que dispara enquanto os demais à toa latem e circundam em infernal ladrido o carro ligado. Os demais acompanham o carro, muitas vezes focinhos voltados para o carro. Não o Negão, que a essa hora está dúzias de metros à frente.

E já não perde a ponta para ninguém, exceto para mim, e isso lá ao km 2. Quando ouço seu choro só seu, solto quando o ultrapasso, sei que já não há mais canino à frente. É quando acelero de 40 para 60 km o meu foguete 78 e abro a latinha de coca-cola para despertar e me concentrar nos buracos quebra-molas no escuro do alvorecer que minhas molas enfrentam dia a dia.

Negãozino! Queridão!





28 de maio de 2014

"Eu encontrei Jesus" espanta três entre quatro

Li o livro. Adorei, e tanto apaixonei-me por ele que o traduzi para o alemão e toda hora o recomendo. É de José Hildebrando Dacanal, catuipense formado em Letras e Economia, professor emérito da UFRGS.

Nesse exato momento de pensamento a vagar, o que mais bem que mal faz, juntaram-se peças díspares que há muito díspares carregava em meu seio.

Uma de minhas filhas, jovem, jovem, porém de feliz autonomia intelectual, não quer saber do livro de sua crença porque coisa boa não poderia ser por contar com minha simpatia. Hm ... Como não minto para filha minha, sabe que não sigo seu deus. Ela, que heroica e autonomamente largou a crisma católica a que aspirava para poder "casar em branco". Largou porque não aparecia padre nenhum para iniciar no catolicismo cristão-romano a ansiosa jovem ávida pela iluminação religiosa. A Santa Sé só enviava jovens substitutos para organizar brincadeiras infantis.

Há outro que rejeita tomar conhecimento do que perfeitamente conhece. Pastor protestante, comunica que "livro com esse título não compraria". Hm ...  A rejeição é aqui sociológica, intelectual, progressista. Antiesotérica .. Tal qual minha filha, também ele me conhece. Rejeição emocional dupla, embutida. 

Bueno. Foi isso? Não.

Outra pessoa que me conhece, igualmente não abre a boca sobre o livro ou meus elogios a ele. Hm ...

O que têm os três em comum? Têm em comum que me conhecem. E que creem. Cada qual - demasiado obviamente - com suas dificuldades embutidas nessa crença.  Por fim, têm ainda em comum que desconhecem o livro. 

Aliás: eu também não teria comprado o livro. Li-o por indicação de um amigo que muito prezo.

Podemos disso concluir o seguinte: quando nos recomenda um livro uma pessoa suspeita (ao menos no assunto), bola não se dá. Lê-se, contudo, a indicação quando a pessoa é bem-vista, quando goza de empatia.

Isso diz tudo. Não sobre o livro, mas sobre "a gente" - para não ser mas direto do que já estou sendo!

Lamentável que a vítima primeira disso é esse livro. Logo esse, que apaziguou os extremos que há décadas carregava comigo, que me atormentavam, que negava tal qual os citados negam à sua maneira. Aliás, e felizmente, há uma quarta pessoa a que posso me reportar. Ela está em cima do muro, procurando e procurando... Leu e recomenda "Eu encontrei Jesus". Até a seus alunos.


"Eu encontrei Jesus", de José Hildebrando Dacanal, agora traduzido para a língua alemã, é uma bíblia sobre a bíblia. É obra inteligente, esperta, lógica, coerente. É óbvia e brilhante. Liberta. Faz entender e apreciar nossa história individual - a ocidental, à qual nesses rincões não podemos nos furtar. Quisera ter encontrado antes essa joia.

Os três fujões deveriam conhecer esse avesso de sua própria História. Essa paz, - paz sugerida pelo deus e acatada pela modernidade. Paz que tende a reinar o mundo, pela ONU, pois pode ser invocada por qualquer entidade por ter sido aceita por todas as entidades.

PS.: A obra está para sair em nova edição e novo título. Algo como "Jesus, Cristianismo e Ocidente." Título já antecipada na versão alemã.



26 de maio de 2014

Livros de ouro

De José Hildebrando Dacanal, grande catuipense radicado em Porto Alegre: 

Eu encontrei Jesus. Uma viagem às origens do Ocidente. ISBN: 8586880426. Nova edição prevista para 2014 ou 2015.  A versão alemã do livro encontra-se à livre disposição no link Versão alemã de "Eu encontrei Jesus" . Tradução minha.
 
Manual de Pontuação: teoria e prática Este maravilhoso livrinho apresenta uma lógica de pontuação em lugar de regrinhas

19 de maio de 2014

Dia de luto ou de luta?

Soube hoje que uma colega de trabalho foi demitida porque defendeu as Letras boas contras as letrinhas ruins. Sinto-me demitido também. Sempre a apoiava. Quando lhe indicava erros de redação, humildemente agradecia.

Sempre primava pela boa imagem da instituição. Ela e eu. Mas no campo das letrinhas. Essas ninguém preza. 

A demissão ocorreu por força maior. Maior? Que se expliquem.

Que dirá a Santa Sé do trabalhador, a Justiça getulista do Trabalho?

Vergonha, vergonha, vergonha. Avaaz. Change.org.

15 de maio de 2014

Alemão no Brasil austral

Ich hob die Mule mit de Relhe ins Potrer getoggt, além do enunciador, entende só quem fala simultaneamente alemão e português brasileiro sulista – muitos qualificativos para um só ouvinte!

É a fala de grande parte do imigrante colono alemão no sul brasileiro, e significa: toquei a mula no potreiro. Potreiro, por sua vez, é sinônimo sulista de piquete. A estrutura da frase é perfeitamente alemã. Um alemão perceberá que alguém está lhe falando em sua língua, mas nada entenderá. De outro lado, o brasileiro menos ainda entenderá, apesar de seu interlocutor usar suas próprias palavras. Os três substantivos da frase e parte do verbo composto são palavras portuguesas ligeiramente adaptadas à gramática alemã. É uma língua sem escrita. Não é exatamente um pequeno Babel. É antes a sonhada porém malograda solução democrática que Babel insinua: falemos uma única língua para que nos entendamos! Só que quem entre os babilônios seguiu esta lógica tão lógica apartou-se dos demais e ficou em condições iguais aos demais. Este idioma alemão brasileiro foi recentemente consagrado como mais uma língua autônoma de nosso universo. Mas a escolarização está sendo seu coveiro.

11 de maio de 2014

10 de maio de 2014

Telefonemas multi-informativos



Um telefonema pessoal revela tudo quando, em público, inicia com “Fala.” (se tanto) e desfecha com “Certo.” ou “Tá bem.”, se tanto.
Se o cônjuge ou namorado (este mais difícil, aquele mais facilmente) assim for tratado, você, involuntário escuta, já sabe em que pé andam as coisas alheias. Talvez interesse. 

Esperar-se-ia um “Oi, amor!” ao início e um “Te cuida!” ou “Beijo!” final.
Depois se perguntam como a gente percebeu.