Férias! Últimodia! Deixemos assuntoscabeludospara a próximasemana. Fiquemos com a leveza do ser tradutor! Levezaque paira. Pordefinição. Coisa de segundograu, de física e gravidade. Hoje, de ensinomédio e de gravidez.
Cabeças humanas divagam. Fazem-no desdequesão humanas. (Não: desdeque humanas. Pessoalmente, creio quejá o fizeram antes.) Quandoliterário o tradutor, ou das ciênciassociais, o ofícioreforça o vagar. Afinal, faz diferençadescreverparafusosoufeições e corações.
Comquenãonos alimentam nossosautores: paisagensnaturais, paisagenshumanas, perfiladas ouapenas faciais. A observação de uma flor e seu beijador. O mirar e pensar do cão amigão. As relações humanas e desumanas. Sons e odores, sentimentos e rumores. Jáme envolvi comterrorismo e comunismo; lençóis freáticos, meioambiente; solidariedade e educação. Tutti fruti. Comonãoacompanhar, pensar, sonhar, aprender e crer.
Meuatualautorme ocupa com a questão e gestão da ética. Reconheço na ética a palavra das palavras. Acima de amor e mandamentos. O pico da montanha dos conceitos. Houvesse ética generalizada, não bastaria? Não seria melhor do que o amor ao próximo, mandamentopredileto da infiel? Ou o amor generalizado, não necessariamente ético?
Bem, é o campo dos filósofos. Limitemos as divagações:
Sãocertasorações, certasabordagensqueme vêm à mente nesta ocupaçãooficiosacom a ética. Já ouvi gente rezando porminhasortefinanceira! Fico felizemdeuster a grandezasuficiente de indeferir. Imagine a inflação zimbabuana que daria se atendesse? Bilionário, maispobre seria do que o agora milenário.
Intrigam-me também os doisgoleirosque, prestes ao início do chutebol, ajoelhados, emgestoscruzados, religiosamente imploram seusdeuses, emgeralidênticos, encomendando a sorteparasi, o azarpara o semelhante. Definitivamente! Não têm misericórdia para comseusdeuses.
O humanodesejo daquela horasó pode sermuitodelicado, evidentemente, paranãoconstranger. Algocomo “dai-me minhasforças”! Afinal, é precisoserético.
Tenho alguns vocábulos que nunca encontro. Palavras corriqueiras e poucas, sempre as mesmas, porém.
Não pode! pensa o leitor. Pode, sim, responde meu célebro, como diz minha filhinha e dizia eu infante. Algum cluster deve estar danificado, e o sistema não consegue reparar o dano. Ou a palavra não foi salva direito, logo de início, sem eu perceber. Deixa ver: são as palavras... as palavras .... Não em jeito! Também! Com o cluster “quebrado”!
Chatice! Fosse ao menos pro inglês, onde tenho recursos digitais. Mas alemão <> português. Nada! Que preguiça de procurar o gordinho em papel! Folhar e folhear e foliar ‑ que nem outono boreal. Deve haver outro jeito!
Descanso o queixo na palma, no punho, nalguns dedos dobrados. Fito a tela. Descubro o chiclete. O punho se abre, abre o chiclete, o chiclete faz a boca abrir. Calma, calma! Também esse exercício físico não abre a gaveta certa na estante certa no corredor certo no setor certo do departamento certo. Lá no alto. Lá dentro.
Tu sempre sabia! Tantas vezes encontraste. É a mesma palavrinha.... Será possível? Será?
Espiada de soslaio ‑ lá está o gordinho. Puxa! Porque não te abres sozinho e pulas na tela, como outros fazem, sabidinho? Tirar as mãos das teclas é como dar uma parada em carro a 80. Tu sabes. A gente para quando chega.
Deixa! Vamos dar mais meio minuto de chance para o andar de cima ‑ não é possível!
Nada. Nada feito!
Tá bem, não tenho mais tempo para perder! Ganhaste, Langenscheid. Mas não me prega a mesma peça de sempre! - Silêncio. Nem liga.
Lanço minha mão à sua direção. O toque. A iluminação! Está aí a palavra! Palavra que nem estava na ponta da língua. É brincadeira (do dicionário)!
Às vezes não basta o toque para o efeito, é verdade. É preciso folhar, encontrar alguma palavra que inicie com a respectiva letra ‑ e cá está essa palavrinha boa no esconde-esconde!
Um braço, uma mão, um toque em capa e papel – uma ponte, um curto-circuito, uma luz, uma solução (já conhecida)!
Hipóteses? Claro. Mas sobre fatos.
Ah! O toque teve seu efeito: são as palavras: sobrinho, ciúme - e mais algumas. Corriqueiras que só. Não disse?
Crônica agraciada com menção honrosa no XIII Concurso Literário da ALPAS.
Oi, onde estão vocês três? Que sincronia! Fosse somente uma a desaparecida, o assunto não caberia nesse blog. Agora, logo as três! Isso deve preocupar o tradutor hodierno. Digo moderno, porque o tradutor clássico não terá experimentado a tríplice ocultação.
Na verdade sou ainda um dos clássicos, se bem que não o último, por falta de idade. Quando vejo a lacuna, a preencho, como bem me ensinaram, já sem palmada, em tempos juscelinos e brizolistas!
Mas aí que está o problema. Aliás, um problema de obediente ex-secundarista. O que então esteve certo, hoje parece errado. A gente não o percebe quando falta apenas uma delas. Mas quando a Ana e a Anna, cruzando fronteires e oceanos, se tratam do mesmo jeito, e até a Ann cai no coro uníssono – então não podem estar todas erradas e eu certo!
É o que ando pensando. Sempre mais. Os textos que recebo me forçam a cogitá-lo. Os mails de todos os lados: de amigos e inimigos, de vírus, piratas e espiões. Nenhum deles quer saber de vocativos, que definham sem sua virgulazinha.
Não chego a nenhuma conclusão. Mudo o método. Paro de ler com os olhos e leio com a boca. E constato que elas têm razão. A fala não deixa o mínimo espaço para a vírgula. Realmente não cabe!
Nos tempos da formalidade, “Boa tarde, seu João!” era sinônimo de “Desejo-lhe uma boa tarde, seu João!” Hoje, “Olá Ana!” ainda significa “Dou-lhe um olá, Ana!”? Significa antes um ”Te percebi, Ana!”
Retornando ao ofício: se traduzo correspondência (e o faço), e ambos os lados escrevem na maneira moderna, já não sinto mais cacife para imprimir tempos idos a tempos modernos. As Anas me matam pelo cansaço. E é assim que as coisas evoluem e sempre evoluíram. Matando pelo cansaço. O que admira, é a simultaneidade nas três culturas, se não noutras mais.
Espiemos ainda, sobre o “alô”, o Houaiss, que está com um pé de cada lado do muro, onde vejo dois vocativos:
1 us. para chamar a atenção de outrem
Ex.: a. vocês aí embaixo
2 us. como saudação
Ex.: a., amigos radiouvintes
E eu toda manhã abrindo meus “Hallo Herr Dressel!” da nova geração de secretárias e de seus velhos seguidores! Fugir como? Acho que estamos liberando uma tecla para algum novo sinal. Talvez este: :)!