Adianto ao leitor desses 5 parágrafos que a sensação sobreviverá a minhas linhas. Senão não seria estranhez, seria outra coisa, por explicado. Gostaria de descobrir se essa estranheza é peculiar.
Pois estranho minha aversão a tantas traduções alemãs de ficção latino-americana. Essa numerosa série de palavras brasileiras e espanholas que entremeiam o texto alemão: os Pedros, haciendas, candomblés, siestas, señoras e pampas que ressaltam, que não se me inserem, feito girafas em pampas ou emas em pradarias; que recusam sua integração no ideário alemão em que o tradutor introduz este teuto leitor que sou eu. A estranheza não vem do fato isolado. Ela contrasta com a experiência de que a sensação não se me repete com a ficção de outros quatro cantos do globo: América do Norte, Rússia, Ásia.
A única pista que tenho para compreender o fenômeno é que essas palavras em vernáculo original teriam um significado mais próximo, íntimo, para mim - por eu ser também entendedor do português e espanhol - do que scout, Rocky Mountains, Anushka, darling, mammachi e mister, que igualmente não costumam ser traduzidos em ficção vertida para o alemão.
Não bastasse isso, estou fazendo outra experiência neste sentido: ando relendo, em português, o indiano "O deus das pequenas coisas", que em inglês me fascinou demais. Mas o fascínio não está se repetindo! Evidente que isso poderia se explicar pela releitura [Ai! Quisera poder voltar atrás no tempo para poder tranqüilamente usar o torneio clássico poder-se-ia explicá-lo, que me soa tão bem em meu ouvido teuto, e tão afetado no brasileiro!], uma vez que a tradução para o português me parece impecável. Será que o fascínio veio mais da decifração do inglês? Se foi, não explica tudo, pois sei que as inúmeras associações inesperadas da autora me encantaram a toda hora.
Pois está aí o enigma. Será como um filme visto após a leitura de seu livro? E, se for, como ficam os pampas e as siestas em meus livros alemães, que não abro ou logo fecho?
Crônica agraciada com menção honrosa no XIII Concurso Literário da ALPAS.
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