25 de abril de 2010

Igreja Católica?

Filho de pastor protestante, só conheço essa instituição de longe e de fora, e como protagonista da História humana com destaque nas fogueiras de São João à moda medieval. Recentemente ainda por intermédio de seu exorcista-chefe em Roma.
     Mas isso é um olhar superficial. Quem me abriu uma fresta nesta pomposa fachada romana foi José Hildebrando Dacanal, catuipenho da roça e do seminário, em seu livro “Eu encontrei Jesus”. Sabe lidar com o materialismo que só ele.
     A Igreja, ouço por aí, estaria agora a balançar dos sinos aos fundamentos. Como num terremoto, porém terremoto oriundo de suas trevas mais intrínsecas.
     Não é terremoto. É um curto-circuito por um mau contato entre o negativo interno e o positivo externo. A luz secular e iluminada não suportou tanto obscurantismo moral e tanta queda física.
     Resultado é um flash do panorama atual retroativo ao final da Segunda Guerra Mundial, mais ou menos. Pouco registrei os estonteantes números de maus-tratos e abusos entre as muralhas católicas norte-americanas e irlandesas e belgas. Nada sei sobre as analogias brasileiras. Os fatos na Alemanha, contudo, os registrei com certa regularidade, e não há como não estarrecer com o silêncio e sistêmico da podridão e frieza humana desvendada.
     O cerne da questão, contudo, não é a Igreja Católica. Seu caso é apenas o mais espantoso pela sua aura sobre-humana, entre semidivina e divina. Pela capacidade de falsidade que se abre entre a moral pregada aos domingos e os atos natos ao abrigo de portas cerradas a sete chaves em seis dias úteis. 
    O problema não é católico. Nem medieval - sabe-se lá o que faziam naqueles idos. Abuso sistemático aconteceu, entre outros, também no longo período de 1966 a 1991 em internato progressista alemão, onde estudava um filho do ex-presidente alemão von Weizsäcker.
     O problema verdadeiro e primitivo é, por definição a existência da própria sexualidade, pois pressupõe a interação entre indivíduos, problema inexistente entre os indivíduos assexuados dos seres naturais e assim não ensinado ao pobre ser humano. O problema segundo agrava o problema primeiro ao negar a força da sexualidade. Negar realidade só dá em confusão, pois toda hora batemos nela que nem criança a testa no canto das mesas de adultos. O terceiro consiste em o protagonista adulto não ter idéia do que está causando ao menor. O quarto é o menor de idade sequer ter ideia do que com ele está a acontecer, que, se porventura entende, só pudor sente; tanto vítima culpada sente-se que não consegue recorrer a terceiros, que às vezes sequer existem - ou então se enquadram nos negadores.
     O tabu da sexualidade (sadia, para ser mais preciso) em nossa cultura cristã é um problema. O tema, negado ao jovem em família e escola, é tratado na rua, em revistas, filmes, dicionários. Não raro, é praticado antes de conhecido. A Igreja Católica Apostólica Romana é a maior força que coloca o jovem neste beco.
     E no Brasil, então? Não sei. Por ser testemunho, só sei acrescentar um desses fatos: no Instituto Pré-Teológico de São Leopoldo (IPT, um seminário protestante), no dormitório e em excursões escoteiras, houve em 1966/67 abuso tríplice de alunos adultos num menor que sequer entrara na puberdade. Hoje adultos, alguns deles devem estar exercendo o santo ofício sem nunca ter pedido perdão à vítima objeto.
     Não é coisa católica. É coisa humana. E não exclusivamente masculina, se bem que predominantemente. Todos precisam de proteção, particularmente crianças e jovens, pois são os mais indefesos.

P.S. 14 de junho de 2010: entrementes li isso .

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