19 de abril de 2009

A técnica do papagaio

Quando a situação descontraída em circunstâncias de interpretação me permite, apresento o orador fulano tal, e depois a mim como seu papagaio, que tudo repete, mas à sua maneira.

Essa gracinha é menos gracinha do que parece. O profissional bem-sucedido tem a grande habilidade de interpretar parágrafos inteiros. Eu, por minha vez, nas poucas oportunidades anuais em que interpreto aulas ou palestras, interpreto oração por oração ou frases curtas. Algo entre consecutivo e simultâneo.

Afirmam que é conveniente ser bom orador para bem interpretar. Pois eu não sou bom orador nem mau orador. Simplesmente não sou orador. Não obstante, a minha técnica me permite interpretar determinadas falas. É uma técnica que surpreendente e felizmente compensa minha péssima memória de queijo suíço. Sinto minha forma de tradução como uma técnica que dispensa a memória, e por isso mesmo a figura do papagaio cola bem. A sensação é até mesmo de não estar pensando, de tão automaticamente que ocorre.

Interpretar uma fala clara e bem pensada não é lá complicado. Já falas desconexas, desestruturadas, o “pensar alto” calam o papagaio, que, boquiaberto, levanta as asas em desespero, recobrando seus sentidos apenas quando verdadeiramente interpreta.

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