24 de março de 2009

Gramestilo

Por duas razões quero insistir na questão. Primeiramente, nós tradutores, literários e de prosa, constantemente temos que desmantelar e destroçar torneios paragráficos para reconstruí-los na forma natural de outro idioma. De preferência, esquecendo por completo a estrutura original, que nos vicia o resultado. Para tanto, nem de longe basta dar conta de palavras e sinônimos. Requer-se torneio e estrutura. A segunda razão é que toda hora minhas fontes não literárias me demandam a reconstrução. Muitas vezes, este processo de reordenamento me custa mais tempo do que a procura de algum sinônimo estrangeiro. Vejamos 2 exemplos típicos da prática, ou seja, da realidade:

a) ... eu estava escultando uma linda musica que mesmo sem agente ter mantido contado eu já escolhe essa linda musica para nos a letra é muito forte ela é assim: direpente quando menos se espera, (...) mas você vai se acustuma no final. deixe acontecer e você vai ver vale apena tenta.

b) ... Assim, considerando-se que como boa parte dos conteúdos trabalhados pela disciplina de história possibilitam uma grande aplicação prática, seria válida a contribuição através do desenvolvimento do presente estudo tendo como objetivo principal a apresentação de metodologias de trabalho utilizando-se saídas de campo como técnica de construção do conhecimento.

O primeiro exemplo é impactante, carece de gramática básica, o que é raro nesta dimensão. Mas não custa a nós tradutores consertar tudo sem grande perda de tempo. Já o pequeno segundo exemplo, academicista, me causa um atraso de talvez 15 minutos em função de seu estilo. Particularmente seus gerúndios nos transformam em arqueólogos à procura das origens e referências desses gerúndios.

Perdi o norte? Não. Soube de fonte fiável que há até escritor que não sabe escrever. Essa afirmação implica que o cara tem sucesso, senão não seria “escritor”. É, portanto, o revisor editorial que faz desse escritor um escritor. Difícil de digerir essa verdade, seguro. Mas em nada muda não acreditar. Para abrandar: deve ser coisa exclusivamente de escritor moderno.

Pois bem. Aonde eu queria chegar? A On writing well, de William Zinsser. Li outros livros do gênero, em alemão e português. Mas o português é o pior, é detalhista, técnico. O inglês é o melhor. Parte da lógica, do bom senso. É o que me dá pé: simplesmente pense no que está escrevendo. Seja simples, extinga chavões. Use palavras curtas em lugar de longas. Seja preciso. Corte. Ao cortar, se torna preciso. Ao cortar, recorre à gramática para encontrar soluções melhores, mais elegantes. Ao cortar, aguça seu sentido pelo bom estilo. É só. É a questão. E se quiser se aperfeiçoar nessa técnica, comece a mergulhar em detalhes gramaticais e de estilística. Não obstante, é gramestilo: pouca gramática, e muito estilo.

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