22 de janeiro de 2009

Gêneses

de tradutores devem ser bem  interessantes, suspeito. Há indícios. Indícios  de que não  poucos deles tenham tido seus berços  em mais  de um país. Talvez até  em um  só, porém  de pais de culturas  distintas.

Quando é tomada essa decisão pelo ofício da tradução? Ainda que seja na hora do vestibular: o que está por trás dela?

Vou contar uma história, e espero que sigam outras, alheias. Pais alemães de verdade, no Brasil. Em casa só se fala alemão. Alemão de verdade. Nas ruas, alemão teuto-brasileiro. Primeira série escolar. Introduzem em mim um português precário. Continuará precário até os 13 anos, quando a família retorna à sede do idioma alemão. (Ainda pouco antes dessa partida, meu professor de português, maldoso, me dizia: ”Se não sabe falar em português, fale em alemão!”) Nas escolas de ambos os lados do oceano, só problemas. Ruim em alemão, em português, em latim e inglês, pior em francês... Equivoco-me na escolha da profissão: livreiro, outrora renomada na Alemanha, hoje quase extinta. No Brasil, poucos a conhecem. Agora, em tempos de internet, cada qual vem a ser seu próprio livreiro.

22 anos depois, retorno ao Brasil. Quando a opção apareceu no horizonte, comecei a devorar os livros de Jorge Amado, em seu vernáculo. Entendia, mas há muito não era capaz de formular uma frase em português. Escutava música brasileira, fazia as contas exclusivamente em português. Mas era só.

No Brasil, comecei a ensinar alemão e – pasmo! – lentamente, ainda imperceptivelmente, comecei a tomar gosto pelo idioma, depois pelos idiomas. A ordem das palavras, a gramática, depois a estilística. A gramática mais detém um papel passivo em mim. Está lá, mas não precisa ser verbalizada. Priorizo a estilística, isto é, a beleza da linguagem. Este já é outro capítulo.

Esta experiência de currículo é-me um tanto valiosa. Duplamente. Aprendo dela que continua vivo nalgum lugar em mim aquele pouco que os professores me colocaram na cabeça em tão remotos dias. Ademais, tenho filhos, e terei paciência com eles também neste aspecto da escolha da profissão. Sei que sempre poderão mudar de rumo. Que não se devem desesperar no vestibular se ainda não sabem bem o que querem. Com o que não digo que não seja bom que já o saibam, evidentemente.

Um comentário:

Anonymous disse...

Uli, até hoje guardo um mapa-mundi que adquiri, quando eras livreiro, em Bochum,(UNICENTER). Gostava de ir ao UNICENTER para passear pelas livrarias. Ainda hoje o faço, quando vou à Alemanha, seguindo como um fantasma meus passos da juventude! Ótimas recordações!
Um abraço
WF