22 de janeiro de 2009

Sensação estranha


Adianto ao leitor desses 5 parágrafos que a sensação sobreviverá a minhas linhas.  Senão não seria estranhez, seria outra coisa, por explicado.  Gostaria de descobrir se essa estranheza é peculiar.

Pois estranho minha aversão a tantas traduções alemãs de ficção latino-americana.  Essa numerosa série de palavras brasileiras e espanholas que entremeiam o texto alemão: os Pedros, haciendas, candomblés, siestas, señoras e pampas que ressaltam, que não se me inserem, feito girafas em pampas ou emas em pradarias; que recusam sua integração no ideário alemão em que o tradutor introduz este teuto leitor que sou eu. A estranheza não vem do fato isolado.  Ela contrasta com a experiência de que a sensação não se me repete com a ficção de outros quatro cantos do globo: América do Norte, Rússia, Ásia.

A única pista que tenho para compreender o fenômeno é que essas palavras em vernáculo original teriam um significado mais próximo, íntimo, para mim - por eu ser também entendedor do português e espanhol - do que scout, Rocky Mountains, Anushka, darling, mammachi e mister, que igualmente não costumam ser traduzidos em ficção vertida para o alemão.

Não bastasse isso, estou fazendo outra experiência neste sentido: ando relendo, em português, o indiano "O deus das pequenas coisas", que em inglês me fascinou demais. Mas o fascínio não está se repetindo!  Evidente que isso poderia se explicar pela releitura [Ai!  Quisera poder voltar atrás no tempo para poder tranqüilamente usar o torneio clássico poder-se-ia explicá-lo, que me soa tão bem em meu ouvido teuto, e tão afetado no brasileiro!], uma vez que a tradução para o português me parece impecável.  Será que o fascínio veio mais da decifração do inglês?  Se foi, não explica tudo, pois sei que as inúmeras associações inesperadas da autora me encantaram a toda hora.

Pois está aí o enigma.  Será como um filme visto após a leitura de seu livro?  E, se for, como ficam os pampas e as siestas em meus livros alemães, que não abro ou logo fecho?



Crônica agraciada com menção honrosa no XIII Concurso Literário da ALPAS.

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