22 de janeiro de 2009

O tradutor globalizado


é um chavão, porque tudo e todos estão globalizados. Comparemos brevemente o tradutor de 15 anos atrás com o de hoje.
Quando, em 1994, comecei a trabalhar na universidade, eu contava com um computador e uma intranet. Um precário sistema de mails começava a funcionar. Na biblioteca universitária havia um acervo bem inferior a cem mil exemplares de livros, dentre eles alguns poucos dicionários padrão. 14 anos depois, meu computador tem acesso a dezenas de idiomas do mundo e a zilhões de sites e documentos. E a dicionários online, alimentados pelo próprio usuário. ‑ E a biblioteca é a mesma, grosso modo. Ou até encolheu.
Em 1987, a União Européia se convenceu da conveniência do intercâmbio entre suas nações. Criou o programa Erasmus, pelo qual hoje muito mais de um milhão de estudantes universitários estagiam anualmente no estrangeiro. Entre eles, certamente os futuros tradutores. Também os EUA investem no intercâmbio de seus estudantes. Os estudantes asiáticos, particularmente os chineses, estão fortemente presentes nas universidades européias e americanas. Mesmo o Brasil, jovem de 508 anos, está despertando.
Nunca antes houve números tão expressivos de intercâmbio multicultural. Havia o fluxo à metrópole de cada era. Se, antes, bilingüismo e biculturalismo fora feliz constituinte de tradutores, estes são hoje provocados, intencionais, conscientes, mais realizáveis e fáceis. Ou seja, o que antes fora acaso, hoje é intencional, porém idêntico: conhecer a outra cultura para facultar a comunicação, o intercâmbio. Os Agenores mineiros, hinterlandeses e mirabolantes, são hoje espécie não rara, mas extinta.
O que significa isso na prática traducional? Que as coisas nos ficaram mais fáceis. Quer dizer: hoje um tradutor consegue resolver problemas, solucionar dúvidas que ontem não teria conseguido solucionar com o seu conhecimento atual. Ontem era preciso ser mais craque para resolver as questões que hoje se resolve sem ser gênio universal. Não apenas no conhecimento privativo acumulado. Também na capacidade da pesquisa bibliotecária. Procurar na internet é mais fácil do que procurar na biblioteca. Encontrar na internet é mais fácil do que encontrar uma biblioteca de qualidade, eventualmente a centenas de quilômetros.
Ou, numa afirmação bem pessoal: muitas vezes me pergunto como teria eu conseguido traduzir o que hoje traduzo. E a resposta é um silêncio global.

Nenhum comentário: